O SABOR DA SUSTENTABILIDADE


O médico e empresário alagoano Lenildo Amorim viu nas suas terras, em Junqueiro, a oportunidade de desenvolver um negócio baseado no modelo sustentável. Em 2003, fundou a Brejo dos Bois, empresa que produz cachaça e mel de engenho orgânico. Mas não parou por aí.  Ele buscou promover ações de conscientização entre os funcionários, parentes e moradores das comunidades ao redor da propriedade com o propósito de sensibilizá-los sobre a importância da preservação do meio ambiente, através de práticas sustentáveis

Por Elayne Pontual e Francisco Ribeiro

Ela compõe o estoque de bebidas de qualquer boteco, barzinho ou restaurante de norte a sul do País. Mas também pudera. Com mais de 500 anos, a queridinha do Brasil já foi adotada pelo imaginário popular, sendo inserida em letras de músicas, na literatura e até no cinema. Nesse último, ela acabou sendo personagem principal de um documentário cuja proposta era contar a sua longa história.

Ainda não conseguiu descobrir qual bebida é essa? Lá vão mais duas dicas: é obtida com a destilação do caldo de cana de cana-de-açúcar fermentado e é usada na tradicional receita do coquetel mais apreciado pelo paladar dos brasileiros e estrangeiros, a caipirinha.

Agora ficou fácil, não é?

Conhecido como cachaça, ela ganhou diversos apelidos como pinga, cana ou canha, nomes dados à aguardente de cana, uma bebida alcoólica tipicamente brasileira.

Contando com meio século de história, o processo de fabricação da cachaça se manteve basicamente o mesmo.  Até o momento em que o médico alagoano Lenildo Amorim da Silva, 50, teve a ideia de produzir uma cachaça sustentável, na Fazenda Brejo dos Bois, em Junqueiro.

Médico com visão empreendedora,Lenildo Amorim da Silva inovou ao buscar aliar sustentabilidade na fabricação dos produtos da Brejo dos Bois (Foto: Divulgação) 
Batizado com o mesmo nome da sua propriedade, a Brejo dos Bois é o primeiro empreendimento do Estado a fabricar produtos orgânicos derivados da cana de açúcar, a exemplo da aguardente de cana (cachaça tradicional, envelhecida e com mel) e mel de engenho.

Conforme rememora Lenildo, a decisão de investir no reflorestamento e na produção orgânica de cana veio quando ele notou que a lógica cruel do desmatamento sem controle, para aumentar a área de produção, estava secando as fontes de água.

“Na época, tinha uma propriedade na cidade de Junqueiro sendo usada apenas para pastagem e campo de vaquejada. Então, decidi produzir algo nessas terras, pois a região oferecia condições climáticas favoráveis ao cultivo de cana de açúcar, mas usando mecanismos que não gerassem tanto danos ao meio ambiente”, conta.

O apoio do Sebrae foi crucial para o empresário descobrir diferentes formas de agregar valor a futura produção. A opção que mais lhe encheu os olhos foi a fabricação sustentável da cachaça e derivados, a exemplo do mel e da rapadura.

Máquinas do processo de produção da cachaça (Foto: Divulgação)
Em 2003, Lenildo abriu a empresa e, desde então, o negócio vem apresentando bons lucros. Segundo ele, atualmente, são produzidas sete toneladas de mel e 30 mil litros de cachaça por ano. Deste total, 95% são distribuídos para Alagoas, “o restante vai para o resto do Brasil”, conta.

A cachaça é produzida em dez hectares de terra, sem nenhuma utilização de agrotóxicos. A colheita manual é realizada nos meses de outubro a fevereiro, sem incendiar a plantação. “Para que a cana não vá ficando ácida e estrague o seu sabor é necessário evitar a exposição demorada ao sol”, revela o proprietário.

O conjunto dessas ações trouxe para a empresa o selo de certificação orgânica concedido pelo Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD), que atesta os preceitos da produção agroecológica.


Segundo Lenildo, a classe A e B são os maiores compradores de seus produtos. “Fabricarmos produtos sustentáveis agrega valor à marca, o que torna a cachaça feita pela empresa diferente das demais existentes nesse mercado”, afirma.

Preservação ambiental aliada a ações sociais

A empresa alagoana além de ter como preocupação a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente, também envolve todos os colaboradores, familiares e pessoas do entorno da região a zelar pela mata nativa, praticar o reflorestamento e preservar seus mananciais.

Sustentabilidade comprovada: os produtos da Brejo dos Bois possuem certificação orgânica e seguem as normas do IBD (Foto: Divulgação)
Até o ano passado foram plantadas 10 mil árvores nativas de Mata Atlântica, como a maçaranduba, pau-brasil, ipê roxo, ipê amarelo, ipê branco, canafístola, e frutíferas, além do cajueiro, jaqueira e mangueira. “O reflorestamento recuperou as fontes de água, cujo líquido usado na produção vem dessas nascentes”, diz.

Em 2007, contando com o apoio da prefeitura de Junqueiro, foi dado início a um projeto que visava inserir a comunidade local em sua propriedade. Já em 2012, foi implantada uma horta educativa no local para o fornecimento de hortaliças orgânicas. A produção é repassada para três escolas localizadas no município e usadas na merenda dos alunos.

A Brejo dos Bois, portanto, ultrapassa a prática sustentável, ao desenvolver trabalhos sociais com a comunidade que vive ao redor da propriedade.

“Buscamos estimular a preservação de reservas florestais e a prevenção ao desperdício dos recursos naturais. Além disso, realizarmos na empresa campanhas internas sobre a importância da sustentabilidade e do cuidado com o meio ambiente”, garante Lenildo. E.P.|F.R.

This entry was posted on quinta-feira, 25 de abril de 2013. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

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